segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Plano de Aula: ESTIMULANDO O OLHAR SOCIOLÓGICO: A DESMECANIZAÇÃO DO OLHAR PARA O ESTRANHAMENTO DA REALIDADE - André Furtado Lima e Érica Martins

Proposta para a série: 1° Colegial
Carga horária prevista: Quatro aulas (200 min) no total.
Parte I: duas aulas (100 min.) e Parte II: duas aulas (100 min.).


OBJETIVO

A desnaturalização da realidade, por dificilmente se despertar de modo espontâneo, pode, através do estímulo do docente, evidenciar as contradições existentes na sociedade como um todo.
Proporcionar aos alunos os primeiros contatos com a Sociologia, seus temas e abordagens, evidenciando que, para realizar este exercício, precisamos estar munidos de ferramentas teóricas que nos auxiliem a compreender a dinâmica social. Neste sentido, o primeiro passo é demonstrar que a vida em sociedade não é algo que se explica de imediato, isto é, as relações sociais possuem uma lógica que não está completamente esclarecida no momento em que as realizamos (na grande maioria das vezes, não pensamos nestes significados).
A desnaturalização da realidade aparece, portanto, como um “antídoto” à “tendência [...] a se explicarem as relações sociais, as instituições, os modos de vida, as ações humanas, coletivas ou individuais, a estrutura social, a organização política, etc. com argumentos naturalizadores.” (OCNS, 2006, p.105-106) A desnaturalização recoloca as relações sociais na ordem dos fenômenos dotados de historicidade, disso depreende-se a necessidade de compreendê-los à luz das mudanças e continuidades, dos interesses e dos laços culturais que determinam porque agimos socialmente desta ou daquela maneira.
Muito embora esta ferramenta teórica seja de uso contínuo (mas não exclusivo) da disciplina de Sociologia, exercitar o uso desta significa estimular o exercício de abstração, que apenas se faz através da análise e desconstrução daquilo que nos é apresentado pelo senso-comum. O objetivo, portanto, é mostrar ao aluno o problema da imediaticidade do senso-comum, destituído de reflexão, ou seja, que a realidade é muito mais complexa do que se mostra à princípio.


METODOLOGIA:

Parte I: Desnaturalizando o olhar
Esta aula é interessante para trabalhar como introdução ao estudo de Sociologia, portanto faz-se necessário uma aula ou explicação sobre o que é a sociologia e sua importância para a compreensão da realidade. Apontar ainda que, assim como a construção do conhecimento, o olhar sociológico também faz parte de um processo que se desenvolverá durante o decorrer do Ensino Médio e, por vezes, por toda a vida do aluno. Os textos “O que é a Sociologia” e “O nascimento da Sociologia” no Cap. I (“A Aventura Sociológica”) de Helena Bomeny e Bianca Freire-Medeiros podem servir de apoio didático.
A charge da Mafalda e o poema “A exceção e a Regra” de Bertolt Brecht podem servir de introdução ao tema. Levantar um debate acerca do que é natural e do que é construído na vida do homem, buscando apontar que o estranhamento da própria realidade é um primeiro passo para o exercício do olhar sociológico.
Após uma explanação teórica sobre o tema, sugerir que os alunos caminhem pelo colégio e façam anotações sobre tudo o que for habitual, comum: desde a estrutura do prédio até o comportamento de alunos e trabalhadores (professores, servidores, equipe gestora). Provocar com questionamentos como: em que bairro a escola se situa? Onde fica a secretaria? Ela tem grades? Onde fica o refeitório, ele é de fácil acesso? Os alunos comem a merenda oferecida? Tem cantina? Todos os alunos compram coisas da cantina durante o intervalo? Tem latas de lixo espalhadas? Tem muitos funcionários? Como é o relacionamento dos funcionários com os alunos? Como é o uniforme da escola? Os alunos gostam? Vocês já se perguntaram para quê serve o uniforme escolar? Tem alguma hierarquia na organização das salas? E os banheiros, ficam próximos das salas de aula? Eles têm espelho?
Na volta à sala, discutir alguns pontos interessantes anotados pelos alunos e comentar à respeito da organização em geral: que tudo é construído a partir da lógica de alguém ou de um grupo, nada é feito ao acaso e que é importante começar a questionar o porque das coisas serem como são.
Para a próxima aula, solicitar que os alunos tragam recortes de notícias de jornal e/ou revistas de acontecimentos que se tornaram banais, triviais nos meios de comunicação e que não deveriam ser naturalizados.

Parte II: O imediatismo do olhar e o senso comum
Para dar início à esta nova etapa, pode ser utilizada a tirinha do Calvin, como forma de sensibilizar os estudantes e retomar a discussão da aula anterior.
Em seguida, pode-se utilizar jornais e outros materiais advindos dos meios de comunicação como exemplo da urgência da exposição de fatos e eventos e de como tal excesso de informação atrapalha uma reflexão aprofundada sobre os acontecimentos do cotidiano (desinformação), infundindo, dessa forma, o senso comum. (Exemplo: “Allison Stokke conquistou uma fama inesperada e indesejada graças a uma única foto” .
Pode-se também utilizar como exemplo, dados estatísticos governamentais para evidenciar a contradição entre a realidade e entre o que nos é apresentado.


RECURSOS UTILIZADOS:

Tv Pen-Drive, Imagens representativas para serem distribuídas (quadrinhos, pintura de M. C. Escher e a reportagem), giz, lousa.


AVALIAÇÃO

Para avaliar a aprendizagem desta unidade, sugere-se a seguinte atividade, inspirada no Caderno de Sociologia, 1° série, vol. 1, do Estado de São Paulo:
Treino do olhar sociológico: A partir da metodologia utilizada para investigar a estrutura da escola (durante a parte I), peça aos alunos que escolham um lugar, fora da escola, para ser analisado. Os alunos devem escolher lugares que não costumam freqüentar, ou seja, locais que não fazem parte de seu cotidiano. Esta orientação tem o sentido de evitar que a análise seja realizada a partir de conhecimentos prévios. Por exemplo: se um aluno é católico e resolve analisar a própria igreja que freqüenta, ele poderá ser levado a registrar eventos que não está efetivamente observando, mas que presenciou em alguma visita anterior. Portanto, reforce a idéia de que esta atividade é um treino do olhar e, desta maneira, ele só pode registrar aquilo que de fato está vendo.
Estabeleça algumas regras junto aos alunos: a atividade não deve ser realizada em locais onde a entrada de menores é proibida, ou mesmo em locais que ofereçam algum tipo de risco para os alunos. Peça aos mesmos que permaneçam no local tempo suficiente para investigar como os seus freqüentadores se comportam; como eles falam, se vestem, o que fazem, etc. Estimule visitas a locais que os alunos, dentro de seu cotidiano, dificilmente freqüentariam, afinal, quanto mais diferente, mais divertida a atividade pode ser! Por último, deixe bem claro que a descrição do local é secundária, o que realmente importa é a descrição das pessoas que estão no local, utilize este momento para reforçar que a Sociologia possui como objeto de estudo o homem e suas relações sociais.


RESULTADOS

A presente atividade pretende introduzir os alunos no universo da Sociologia, no entanto, cabe ressaltar que este é apenas um “primeiro esforço” e, neste sentido, muitas outras atividades deverão ser realizadas para estimular a imaginação sociológica dos estudantes. Como resultado da atividade de avaliação, conforme nossas experiências, espera-se que os alunos encontrem algumas dificuldades para realizar uma descrição imparcial. Utilize o espaço da sala de aula para debater os resultados da pesquisa e coloque em discussão eventuais problemas que possam ser encontrados, como análises preconceituosas ou excessivamente superficiais. Esta atividade também pode ser constantemente revisitada, sugerindo que os alunos observem como se dão as relações sociais em espaços triviais, como uma fila de banco ou o interior de um ônibus urbano.


REFERÊNCIAS

BOMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca (org.). Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. SP: Editora do Brasil, 2010.

FINI, Maria Inês (coord.). Caderno do Professor: Sociologia, ensino médio – 1° série / volume 1. São Paulo, SEE, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação.Secretaria de Educação Básica. OCNS. Orientações Curriculares Nacionais: Sociologia. MORAES, Amaury C.; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca; TOMAZI, Nelson D., 2006.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2010.


Anexos:





“Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra”.
(Bertolt Brecht - A exceção e a Regra)



Gravura de M. C. Escher





Musas do esporte: Allison Stokke conquistou uma fama inesperada e indesejada graças a uma única foto


Allison Stokke era uma atleta de salto com vara como outra qualquer até meados de 2007, quando a foto acima mudou sua vida, transformando a norte-americana em uma musa do atletismo dos EUA. Curiosamente, a bela morena nem sequer sabia da existência da imagem até que um amigo avisou que a foto em questão se espalhava pelos computadores norte-americanos.
A imagem da bela morena ajeitando seu cabelo enquanto se prepara para mais um salto é a razão de uma fama inesperada e, principalmente, indesejada para a garota da Califórnia. “Eu trabalhei tanto para o salto com vara e com tudo isso acontecendo é como se meu esforço não valesse nada. Ninguém nota isso”, lamentou a gata em entrevista ao prestigiado jornal Washington Post, no auge da sua “fama”.

6 comentários:

  1. gostei muito do plano de aula e tambem me ajudou, você pode publicar mais referente o caderno do aluno. Grata

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    1. Olá, Anônimo. O blog funciona com sugestões e envio de material por outras pessoas também. Iremos postando mais planos de aula e material didático assim que forem chegando.

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  2. para os iniciantes um plano de aula é muito difícil mas até conseguir realizar os primeiros planos, ficam muitas noites preocupados pensando em como realizar um bom planejamento este é o meu caso alguém pode me ajudar?
    OBS:- tenho dificuldades para trabalhar com as palavras

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    1. Olá Lotus. Bem, eu também tive (e ainda tenho) muitas dificuldades para preparar aulas. Este modelo proposto é bem formal e os planos de aula mais objetivos não precisam ser feitos todas as vezes deste mesmo jeito. Este modelo surgiu a partir da experiência prática (não formal)e pode (e deve) ser remodelado conforme a especificidade de cada grupo a ser trabalhado.
      De acordo com o currículo proposto pela instituição de ensino, sugiro que você busque nos livros didáticos e também na internet algumas atividades propostas por outros colegas. A dificuldade de trabalhar com as palavras será superada aos poucos, conforme as experiências forem realizadas em sala de aula. Bem, essa é a minha opinião, espero que tenha ajudado!

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  3. Quem explica a situação das nossas universidades públicas é um experimento já realizado que consistiu em introduzir um grupo de macacos em habitat com dois montes de bananas, sendo um de boas e outro só dessas já podres. E toda vez que algum se dirigia para as bananas boas levava um banho de água gelada até desistir e ir comer das podres. Quando todo não mais se dirigia para as bananas boas era introduzido um novo grupo e quando algum do novo se dirigia para o monte de bananas boas os demais lhe davam uma sorva, e a paz no grupo era atingida quando nenhum fazia mais isso, coisa que rapidamente acontecia. Depois disso, só depois da décima geração é que algum conseguia comer alguma banana boa sem apanhar muito.

    Dito isso, a ditadura tinha um drama: não queria educação de qualidade para o povo e precisava, ante suas propagandas de progresso tecnológico, de doutores/pesquisadores. Para tanto, tomou empréstimos bilionários no exterior e fez dois investimentos:
    1 - para o povo uma coisa chamada Mobral, que consistia de cartilha e o docente podia ser qualquer que que soubesse ler, pois o povão só precisa saber o essencial para escrever o próprio nome e pegar ônibus, porquanto, coisa de custo quase zero.

    2 – Para a elite, já que o diploma daria acesso aos altos cargos, e atender os seus propósitos em tecnologia investiu em universidade pública. E foram logo duas no mesmo corpo: uma de graduação sob o auspício leniente do MEC (lembro que o importante era diploma e não o saber) e outra em pós na tutela do CNPq/Capes/MCT com investimento, bolsa para aluno e pagamento extra para docente, e processos razoáveis de acompanhamento de desempenho.

    Como essas duas partes se equacionam, no geral, é da seguinte forma: para produzir em condições de atender pós, 10% de cada turma de ingressante já uma produtividade estupenda. E nisso, a graduação das públicas sempre foram soberbas. Pois, somos a nação que mais diploma em doutorado no mundo. Nesse tocante USP é o carro chefe, reconhecida mundialmente como a que mais diploma em doutorado e em todo curso deste há gente de várias públicas.
    E que acontece com os 90% restantes de cada turma? Vira lixo acadêmico. Mas... não é disso que se vai produzir docente para a escola básica? Desde de quanto a ditadura quis isso? Um jato de água fria que essa jogou em todos foi para destruir o mínimo do que compõe formação docente quebrando preceitos essenciais disto: isolando-os e criando a imbecilidade de ser possível diplomar numa área um sujeito que sabe tudo. Ou seja, o processo de diploma docente leva o sujeito a desenvolver até preconceitos contra as demais outras áreas - caso até de briga pelos corredores entre licenciandos de cursos diferentes, porquanto, quando estiverem na escola não vão interagirem-, além de leva-los acreditar a graduação lhe deu tudo que precisava por toda vida de docente, porquanto, nunca mais precisarão aprender mais nada, não vão quere mais de fato e, no máximo, apenas tirar mais diploma para ter aumento de salário.

    Por que isso explode com rede pública e deixa rede privada quase salva, pelos menos em condições de faturar um pouco? Quem tiver interesse em ensinar na rede privada vai estudando por fora e essas mesmas oferecem estágios, quase sempre não remunerado, para os que essas acharem com algum rendimento razoável.

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  4. Me pergunto como a Prof. Elisabeth pode ser membro das Orientações Curriculares Nacionais.

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