sexta-feira, 18 de junho de 2010

Características da Consciência Ingênua x Consciência Crítica

Fonte: FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. RJ: Paz e Terra, 1979.



** Características da Consciência Ingênua **


1) Revela uma certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na causalidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais.

2) Há também uma tendência em considerar que o passado foi melhor. Por exemplo: os pais que se queixam da conduta de seus filhos, comparando-a ao que faziam quando jovens.

3) Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. Esta tendência pode levar a uma consciência fanática.

4) Subestima o homem simples.

5) É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é um jogo de palavras. Suas explicações são mágicas.

6) É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmica, não pretende esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de impô-las e procurar meios históricos para convencer com suas idéias. Curioso ver como os ouvintes se deixam levar pela manha, pelos gestos e pelo palavreado. Trata de brigar mais, para ganhar mais.

7) Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo.

8) Apresenta fortes compreensões mágicas.

9) Diz que a realidade é estática e não mutável.



** Características da Consciência Crítica **

1) Anseio de profundidade na análise dos problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para análise de problemas.

2) Reconhece que a realidade é mutável.

3) Substitui situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade.

4) Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta à revisões.

5) Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos. Não somente na captação, mas também na análise e na resposta.

6) Repele posições quietistas. É intensamente inquieta. Torna-se mais crítica quanto mais reconhece em sua quietude a inquietude, e vice-versa. Sabe que é na medida que é e não pelo que parece. O essencial para parecer algo é ser algo; é a base da autenticidade.

7) Repele toda transferência de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas.

8) É indagadora, investiga, força, choca.

9) Ama o diálogo, nutre-se dele.

10) Face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.

4 comentários:

  1. incrível como a maior parte da sociedade vive por meio de uma forma de pensar acrítica, ensinados desde a infância e presos a um medo de sair da zona de conforto (senso comum).

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  2. Por viver neste complexo mundo de sociabilidades, já vi e ouvi sensos comuns qu estavam longe de ser ingênuos. Por outro lado, considero a ciência a melhor forma para, cientificamente, nos adaptarmos às novas e constantes regras sociais desses últimos 3 séculos. Se a ciência, milagrosamente, nos apresentar melhores formas de vida, mesmo entre produtos geneticamente modificados e bombas atômicas, estaremos aptos a escolher, entre essas, a que entendermos a menos ruim para viver. No entanto, se houver apenas um caminho escolhido pelos cientistas, passaremos a ter posições quietistas como se orientados pelo Papa da Igreja Católica no período da Idade Média, e aceitaremos tudo amistosamente. Isso seria assustador para minha análise de homem simples, mesmo que proveniente de uma irrefutável, moderna e honesta ciência, cujo único interesse é melhorar a sociedade para os homens e mulheres que consomem e procriam.

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